IPEA - Institute of Applied Economic Research

07/22/2025 | Press release | Distributed by Public on 07/22/2025 15:14

Países do BRICS têm potencial para a IA, e cooperação pode impulsionar processo

Foto: Freepik

A disseminação da Inteligência Artificial (IA) oferece desafios e oportunidades para os países de mercado emergente. A infraestrutura tecnológica e a capacitação de mão de obra parecem ser os maiores gargalos, mas o uso ético de dados e o investimento em pesquisa e desenvolvimento também são questões importantes. Diante disso, como os países do BRICS podem superar essas questões?

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) publicou o texto para discussão Inteligência Artificial nos Países do BRICS: Soberania, Estágios de Desenvolvimento e Diferentes Perspectivas, dos pesquisadores Sérgio Queiroz, técnico de planejamento e pesquisa na Diretoria de Estudos e Políticas do Estado, das Instituições e da Democracia (Diest/Ipea), e Denise Direito, especialista em políticas públicas e gestão governamental e coordenadora de Estudos da Governança e Implementação da Transformação Digital (Cogit) na Diest.

O estudo identificou, com base em documentos oficiais, as prioridades dos países-membros do BRICS para o desenvolvimento de tecnologias de IA. Além de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, fazem parte do bloco Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Irã, Indonésia e Arábia Saudita. Os documentos analisados na pesquisa refletem o estágio atual de desenvolvimento tecnológico de cada país.

Situação dos países - No caso do Egito, Irã, Indonésia, África do Sul e Brasil, os textos reforçam a urgência de uma atuação coordenada entre Estado, setor privado e academia. Também apontam para a necessidade de investimentos robustos em capacitação e formação de profissionais.

Para os pesquisadores, os países do BRICS apresentam vantagens e estão em posição estratégica para o desenvolvimento de IA. China e Rússia, por exemplo, destacam-se pela busca da liderança global.

Já o Brasil, com histórico de investimentos em pesquisa e desenvolvimento, busca consolidar uma posição relevante nos debates internacionais sobre inteligência artificial, especialmente junto aos países com os quais mantém maior interlocução. No entanto, os documentos não indicam intenção do país em disputar uma liderança global na área.

Análise da pesquisa - Foram analisados quatro eixos estruturantes: infraestrutura computacional, dados, mão de obra especializada e pesquisa e desenvolvimento (P&D). A maioria dos planos de IA destaca a importância de contar com uma infraestrutura computacional robusta.

"Nos últimos anos, pelo menos do ponto de vista de discurso, o Brasil vem apontando para a necessidade de construir e consolidar iniciativas nacionais nesse sentido. O Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA), cuja versão final foi lançada recentemente, traz metas nessa direção", aponta o pesquisador Sérgio Queiroz.

Elaborado pelo Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (CCT), com coordenação do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o PBIA foi publicado em junho de 2025 e prevê investimentos de até R$ 23 bilhões ao longo de quatro anos. "Percebemos uma mudança de posição, mas ainda não está retratada na legislação. Há uma ambição maior de desenvolver uma solução soberana, autônoma para o Brasil, para a inteligência artificial", destaca Queiroz.

Considerados peças-chave para o avanço da IA, os dados também têm mobilizado os países do BRICS, que lidam com questões como qualidade, acessibilidade, segurança, privacidade e uso ético.

"Achamos que seria necessário construir um arcabouço e mecanismos claros que viabilizassem o uso dos dados nacionais para melhoria das políticas públicas, a partir da realidade brasileira, mas que assegurasse o seu controle. Algo como um sandbox regulatório para políticas públicas, análogo ao que se faz com empresas em que se permite, por tempo limitado, em um ambiente controlado e supervisionado por órgãos reguladores, a manipulação de dados para teste e desenvolvimento de produtos e serviços como forma de incentivo a inovações", explica Denise Direito.

Mão de obra - A formação de mão de obra qualificada passa pela questão educacional. Todos os países analisados preveem reformar seus sistemas de ensino - do básico ao superior - com o objetivo de incorporar competências essenciais em inteligência artificial. As estratégias incluem a atualização de currículos, a introdução do pensamento computacional e da programação, além do fortalecimento da formação em áreas STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática).

Avançar em pesquisa e desenvolvimento (P&D) também é apontado como um passo crucial para garantir um desenvolvimento tecnológico autônomo e assegurar a soberania tecnológica.

Soberania - Uma das questões centrais do texto é a soberania. A soberania tecnológica está relacionada com a capacidade do país de passar a produzir insumos e infraestrutura tecnológica sem que seja necessária a importação ou a contratação de serviços externos. Já a soberania digital está relacionada ao conceito de soberania de interdependência. Os papéis de Estados e mercado se misturam, e mecanismos de controle passam a ser negociados em fóruns internacionais. Um exemplo é o uso de dados.

"A transferência de dados possui legislações por vezes conflitantes. As empresas sediadas nos Estados Unidos são obrigadas por imposição legal, como o Cloud Act (2018), a compartilhar dados coletados no Brasil com o governo norte-americano, caso este os solicite. Isso está em conflito com a nossa Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD)", explica Queiroz.

"Assim, o caminho inicial é a negociação diplomática e a consolidação de regras internacionais que respeitem a soberania, nesse caso dos dados dos cidadãos nacionais. E vemos o bloco do BRICS como um importante fórum para começarmos a amadurecer e estabelecer essas regras".

Os pesquisadores enxergam na cooperação entre os países do BRICS um caminho para superar desafios compartilhados entre os membros. Eles sugerem a colaboração em iniciativas de hardware e software de IA de código aberto, uma via estratégica para reduzir a dependência de tecnologias proprietárias e promover a independência tecnológica.

Outras oportunidades de colaboração estão no compartilhamento de dados e o desenvolvimento de frameworks de interoperabilidade, além de infraestrutura compartilhada e a criação de hubs regionais de computação.

Acesse o Texto para Discussão 3132

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