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06/13/2025 | Press release | Distributed by Public on 06/14/2025 04:40

O desafio do Caribe: Promover o crescimento e a resiliência em meio à incerteza global

O desafio do Caribe: Promover o crescimento e a resiliência em meio à incerteza global

13 de junho de 2025

tal como preparado para a entrega.

Introdução e roteiro

Boa noite a todos e a todas.

É um grande prazer estar aqui em Brasília para esta 55ª Reunião Anual do Banco de Desenvolvimento do Caribe (BDC).

Obrigado, Valerie, pela gentil apresentação. Aproveito esta oportunidade também para agradecer ao Banco por me dar a honra de proferir a palestra deste ano em memória do Dr. William Gilbert Demas.

É altamente simbólico que a reunião deste ano se realize no Brasil pela primeira vez. Simboliza um novo começo e demonstra a coalizão ampla e internacional formada pelos acionistas do BDC, todos empenhados no sucesso do Banco.

O BDC é uma instituição incrivelmente importante, com um papel vital a cumprir no desenvolvimento do Caribe. O Banco precisa ser valorizado e apoiado, mesmo porque ele agrega valor aos seus membros mutuários e não mutuários em uma parceria harmoniosa com todas as partes interessadas.

Esta é também a primeira Assembleia Geral Anual do BDC sob a presidência do Sr. Daniel Best. Assim, é mister, mais uma vez, parabenizar o Presidente Best e lhe desejar todo o êxito.

Nunca é demais falar das contribuições do Dr. Demas ao longo da carreira - como político, acadêmico e economista. Ele deixou um legado de visão aguçada e excelência no Caribe, um legado do qual toda a região pode se orgulhar.

Precisamos canalizar essa visão e essa excelência para fazer face a duas prioridades urgentes da região. A primeira é elevar as perspectivas de crescimento e o padrão de vida. A segunda é criar resiliência contra choques econômicos e desastres naturais persistentes. Esses dois objetivos são concomitantes. Precisamos do segundo para cumprir o primeiro de forma sustentável.

Em um momento de excepcional incerteza na economia global, essas tarefas se tornam ainda mais difíceis - e nossos esforços se tornam ainda mais prementes.

Hoje, tratarei do desafio do crescimento e da resiliência: tanto no contexto global quanto no contexto da região do Caribe.

Em seguida, discutirei como as autoridades regionais podem responder, implementando políticas macroeconômicas sólidas e avançando com as reformas estruturais necessárias.

Por fim, falarei de como o FMI está apoiando nossos países membros para impulsionar as perspectivas de crescimento e aumentar a resiliência na atual conjuntura global incerta.

O desafio do crescimento mundial

Gostaria de começar pelas perspectivas de crescimento mundial.

Após uma série de choques nos últimos cinco anos, a economia global parecia ter se estabilizado - em taxas estáveis, embora pouco animadoras em comparação com a experiência recente.

Contudo, o cenário agora é outro. Grandes mudanças em matéria de política econômica sinalizaram uma redefinição do sistema de comércio mundial. No início de abril, a alíquota tarifária efetiva dos EUA saltou para níveis que não eram vistos havia um século (Figura).

E, embora as negociações comerciais continuem e tenha havido uma redução de algumas tarifas, a incerteza em torno das políticas comerciais continua fora do padrão.

Em consequência, rebaixamos consideravelmente nossas mais recentes projeções para o crescimento global no relatório World Economic Outlook de abril: em 0,5 ponto percentual para este ano, de 3,3% para 2,8%, e em 0,3 ponto percentual para 2026, de 3,3% para 3,0%. Isso representa o crescimento mundial mais baixo em cerca de duas décadas, sem contar 2020, o ano da pandemia.

Naturalmente, surge a dúvida: se as tensões comerciais e a incerteza persistirem, qual poderá ser o impacto sobre o crescimento mundial?

Para começar, sabemos que a incerteza gera custos enormes. Com a complexidade das cadeias produtivas modernas e o sobe-e-desce das tarifas bilaterais, é muito difícil planejar. As empresas adiam as decisões sobre embarques e investimentos. Também sabemos que, quanto mais a incerteza persiste, maiores são os custos.

Além disso, o aumento das barreiras comerciais afeta o crescimento de imediato. As tarifas elevam a receita fiscal, porém às custas da redução e deslocamento da atividade econômica - e as evidências de episódios anteriores sugerem que não são apenas os parceiros comerciais que pagam pelo aumento das tarifas. Esses custos são repassados aos importadores e, em última instância, aos consumidores, que pagam preços mais altos.

O protecionismo também corrói a produtividade no longo prazo, sobretudo nas economias menores. Proteger os setores contra a concorrência reduz os incentivos para a alocação eficiente de recursos. Abre-se mão da produtividade e dos ganhos de competitividade até então obtidos pelo comércio, o que prejudica a inovação.

As tarifas afetarão o crescimento econômico de forma diferente em cada país, mas nenhuma nação está imune. As correções mais significativas nas previsões de crescimento do FMI estão concentradas nos países mais afetados pelas recentes medidas comerciais. Os países de baixa renda enfrentam um desafio a mais: a queda dos fluxos de ajuda financeira à medida que os países doadores reveem as prioridades para os recursos e voltam a atenção para suas preocupações internas.

E já se nota um aumento na volatilidade dos mercados financeiros globais. As avaliações das bolsas caíram drasticamente em resposta às tarifas anunciadas em abril. Seguiram-se movimentos incomuns nos mercados de títulos públicos dos Estados Unidos e de moedas.

Desde então, os mercados acionários recuperaram terreno na esperança de uma solução rápida das tensões comerciais. Mas, com a continuação da incerteza e condições financeiras mais rigorosas, os riscos para a estabilidade financeira mundial aumentaram consideravelmente, como avaliamos em nosso mais recente Relatório sobre a Estabilidade Financeira Mundial.

Essas realidades globais causam três vulnerabilidades principais.

Primeiro, as avaliações continuam altas em alguns segmentos importantes dos mercados mundiais de ações e de títulos privados. Se as perspectivas econômicas se deteriorarem, esses ativos estarão vulneráveis a fortes ajustes, o que, por sua vez, poderá afetar os mercados emergentes em três áreas: câmbio, preços dos ativos e fluxos de capital.

Segundo, em mercados mais voláteis, algumas instituições financeiras podem se ver pressionadas, sobretudo as do segmento não bancário altamente alavancadas, o que terá implicações para o sistema financeiro interconectado.

Terceiro, os mercados de títulos soberanos são vulneráveis a novas turbulências, em especial onde os níveis de dívida pública são elevados. As economias de mercados emergentes, que já enfrentam os maiores custos reais de financiamento em uma década, agora talvez sejam obrigadas a arcar com um custo ainda mais alto para refinanciar a dívida e financiar os gastos fiscais.

Essas vulnerabilidades e o possível impacto nas economias de mercados emergentes não devem ser subestimados nem ignorados.

Mas gostaria de dar um passo atrás com respeito a esses desdobramentos econômicos e financeiros mais recentes. Como apontei, as perspectivas de crescimento mundial já eram pouco animadoras.

E, se mirarmos o médio prazo, essas perspectivas para o crescimento mundial, como mencionei antes, permanecem nos níveis mais baixos em décadas.

O que está por trás disso? Segundo nossa análise, uma desaceleração significativa e de base ampla no crescimento da produtividade é responsável por mais da metade do recuo do crescimento mundial.

Isso se deve, em parte, ao fato de a mão de obra e o capital no mundo não estarem fluindo para as empresas mais dinâmicas. A queda do investimento privado após a crise financeira mundial e o crescimento mais lento da população em idade ativa nas principais economias agravaram o problema. Nossos estudos mostram que, sem uma correção do curso, as taxas de crescimento global até o fim desta década ficariam cerca de 1 ponto percentual abaixo da média anterior à pandemia.

De forma bem simples, a combinação de novas incertezas com perspectivas econômicas já fracas gera um cenário bastante desafiador para o crescimento mundial.

O desafio do crescimento e da resiliência no Caribe

Não chega a surpreender, portanto, que a maioria dos países do Caribe também enfrente perspectivas desafiadoras.

Na mais recente edição do relatório World Economic Outlook, já projetávamos um crescimento morno na região do Caribe como um todo, mesmo antes de levar em conta as mudanças na política comercial anunciadas pelos Estados Unidos. O desempenho mais forte em alguns países, como Jamaica e Trinidad e Tobago, foi compensado por um crescimento mais fraco em outros.

E em vários países, a criminalidade pesa sobre as perspectivas de crescimento, em especial no Haiti, onde a situação da segurança dificulta os esforços para sustentar a atividade econômica, implementar reformas e atrair ajuda e investimento estrangeiro direto.

Além disso tudo, estimamos que as tarifas anunciadas em abril e suas repercussões pelo mundo afora reduziriam o crescimento do Caribe em pelo menos 0,2 ponto percentual, em média.

Mas o impacto varia entre os países.

Nas economias dependentes do turismo, em que o crescimento está intimamente ligado à atividade econômica nos Estados Unidos, o impacto dependerá, sobretudo, do volume de turistas americanos.

Nos países exportadores de petróleo, a queda dos preços das commodities e o aumento da volatilidade são os principais canais de transmissão. A queda do crescimento mundial significa menos demanda por essas commodities, o que afeta negativamente as economias dos países exportadores desses produtos.

A desaceleração do crescimento é um fenômeno relativamente recente do ponto de vista global, mas, infelizmente, não é novidade para o Caribe. As tendências de declínio do crescimento na região já estão presentes também em um horizonte mais longo. Uma análise recente do FMI constata que a maioria dos países do Caribe teve um crescimento consideravelmente mais lento nas últimas décadas (2001-2023), em comparação com as duas décadas anteriores (1980-2000).

No caso das economias caribenhas dependentes do turismo, estimamos um declínio do crescimento potencial de 3,3% no período 1981-2000 para 1,6% nas duas décadas seguintes (2001-2019).

Isso representa um desafio ainda maior para o Caribe: reverter a tendência de desaceleração do crescimento em um momento em que o crescimento mundial também está recuando. Ou seja, o desafio é reverter essa tendência quando o vento que sopra as velas do barco perdeu a força e mudou de direção.

Deixemos bem claro o que está em jogo.

O crescimento mais fraco no Caribe desacelera a melhoria do padrão de vida e inibe as aspirações do povo caribenho por melhores oportunidades. No passado, a desaceleração do crescimento também significou a estagnação da convergência dos níveis de renda entre o Caribe e as economias avançadas. Em outras palavras, cresce a diferença entre a sorte econômica do caribenho e a de seu semelhante nos países avançados.

Naturally, there are exceptions to the regional trend. In particular, the economy of Guyana has experienced rapid growth over the last two decades, moving from low-middle-income to high-income status. Growth accelerated to over 45% on average in the past three years, making Guyana the fastest growing economy in the world!

But for the Caribbean as a whole, the questions we should focus on are: what explains the pattern of declining growth? And what is the appropriate menu of policy responses to this pattern?

Regarding the first question, and like the rest of the world, one of the main explanations for the decline in growth is weak productivity growth.

O desafio do crescimento não é um mistério. O crescimento potencial pode ser decomposto nos fatores que o constituem e podemos comparar como o crescimento potencial do Caribe tem declinado ao longo do tempo. Essa abordagem analítica, baseada em dados, revela que o potencial de crescimento do Caribe é a metade do que era há algumas décadas. Para enfrentar o desafio do crescimento no Caribe, são necessárias políticas sistemáticas e abrangentes para melhorar, de forma estratégica, os fatores que contribuem para o crescimento potencial. Se nos detivermos em um dos fatores importantes, constatamos que o crescimento da produtividade do Caribe caiu para quase zero. Essa é a raiz do desafio do crescimento no Caribe. Além do crescimento da produtividade, é preciso acelerar o desenvolvimento do capital físico e humano. Assim, senhoras e senhores, não existe uma solução mágica para esse desafio. Tampouco há uma solução rápida. De fato, existe um grande perigo se acreditarmos que o desafio do crescimento pode ser resolvido com soluções rápidas. Resolver a questão do crescimento exigirá um esforço tão grande quanto o envidado nas exitosas reformas para alcançar a estabilidade macroeconômica realizadas na Jamaica, em Barbados e no Suriname.

O que as autoridades devem fazer? - Manter e consolidar a estabilidade macroeconômica

O objetivo das autoridades é claro: promover um crescimento resiliente e inclusivo que eleve os padrões de vida de forma sustentável.

Como isso deve ser alcançado?

  1. Manter e consolidar a estabilidade macroeconômica; e
  2. Abordar, de forma decisiva e integral, os fatores que elevam o crescimento potencial

Como pré-requisito, os países precisam buscar políticas que restabeleçam, mantenham e consolidem a estabilidade macroeconômica: preços estáveis, trajetórias fiscais sustentáveis, reservas cambiais suficientes e estabilidade do setor financeiro.

A experiência coletiva do Caribe demonstra de forma contundente o potencial transformador da estabilidade macroeconômica. A Jamaica, por exemplo, sobrecarregada com taxas de desemprego de 20%, em média, entre o início da década de 1970 e o fim da década de 1980, e de 15% entre a década de 1990 e meados da década de 2000, só alcançou o resultado até então inimaginável de taxas de desemprego de um dígito, no patamar de 4% ou menos, quando a estabilidade se consolidou.

A estabilidade também é amiga dos pobres, como a experiência da Jamaica também salienta.

O país alcançou a mais baixa taxa de pobreza de sua história em 2023, mais uma vez graças à estabilidade macroeconômica consolidada no contexto de um quadro de proteção social institucionalizado, complementado por medidas anticíclicas temporárias e direcionadas em momentos de dificuldade.

Meus amigos e amigas, nossa história e a história econômica mundial demonstram claramente que a estabilidade econômica é indispensável para o sucesso nacional, seja qual for a escolha de organização social e política. Portanto, a estabilidade econômica deve ser guardada e protegida como um bem nacional, permitindo-se concentrar em desafios de ordem superior, como reformas estruturais para liberar o crescimento potencial. Além disso, os requisitos da estabilidade devem funcionar como uma restrição à política econômica. Toda proposta de política que contemple pôr em risco qualquer um dos componentes da estabilidade não deve passar pelo crivo da formulação de políticas. Garantir a estabilidade econômica no futuro exige leis, mas as leis não são suficientes. A estabilidade no longo prazo é mais bem preservada pelo desenvolvimento, capacitação e fortalecimento das instituições.

Reconstruir as reservas fiscais, fortalecer os quadros fiscais e reforçar a resiliência.

A região do Caribe tem diferentes regimes cambiais. O principal requisito é a uniformidade interna dentro do regime escolhido. Os regimes de câmbio flutuante e de câmbio fixo impõem suas próprias restrições. Seu êxito exige observá-las.

Embora sempre haja espaço para melhorias nos quadros monetários, as áreas do complexo da estabilidade macroeconômica que exigem atenção urgente no Caribe são a reconstrução das reservas fiscais, o fortalecimento dos quadros fiscais e o reforço da resiliência.

Sejamos realistas: além de todos os outros desafios, os orçamentos públicos da região estão apertados. A concessão de apoio extraordinário em resposta a choques extraordinários esgotou as reservas.

Os índices de endividamento público diminuíram desde a pandemia, o que é uma boa notícia. Contudo, em muitos países - entre eles os do Caribe - a dívida e as necessidades de financiamento ainda são muito altas.

De fato, para alguns membros da União Monetária do Caribe Oriental (ECCU), alcançar a meta regional para a dívida de 60% do PIB até 2035, daqui a uma década, exigirá esforços consideráveis.

Com uma consolidação fiscal oportuna, os países podem reduzir os índices de endividamento e, assim, conseguirão se proteger contra choques futuros. E podem também abrir espaço para investir em capital humano e físico crucial, investindo, assim, no próprio futuro.

Além disso, alguns países do Caribe adotam um regime cambial de paridade fixa, que tem sido uma âncora de estabilidade de longa data, por exemplo, no Caribe Oriental. A ECCU é uma das quatro únicas uniões monetárias do mundo[1] e é um testemunho da capacidade do povo caribenho de colaborar, cooperar e inovar.

No entanto, para salvaguardar a estabilidade decorrente dessa união monetária por muito tempo, as políticas fiscais precisarão ser sustentáveis, resilientes e compatíveis com o regime cambial. A incompatibilidade só serve para comprometer a união monetária e pode gerar consequências desestabilizadoras.

Nossa orientação para as autoridades sobre como reconstruir as reservas e fortalecer os quadros fiscais é simples: mobilizem receita tributária, gastem com sabedoria e planejem com antecedência.

Comecemos por mobilizar receita tributária. O rendimento da receita tributária nos países do Caribe Oriental está aquém do de seus pares. Isenções fiscais ineficientes e administrações tributárias fracas estão levando a grandes perdas de receita.

Ampliar a base tributária e eliminar distorções não só aumentarão as receitas, mas também apoiarão o investimento e o crescimento. O FMI prestou assistência técnica aos nossos países membros no Caribe para assisti-los em seus esforços contínuos nessa área.

Falo agora de gastar com sabedoria. Nem todo gasto é produtivo. Quando o espaço fiscal é limitado, o foco precisa recair sobre os gastos que têm o potencial de gerar retornos sociais e econômicos quantificáveis dentro de prazos razoáveis. Convém manter a qualidade e a composição dos gastos sob revisão, por exemplo, contendo os gastos improdutivos, aumentando a eficiência e digitalizando os serviços do governo.

Por último, planejar com antecedência. E com convicção. A credibilidadeé fundamental para que a consolidação fiscal prossiga gradualmente, com custos de financiamento mais baixos e resultados melhores em termos de crescimento.

Quadros fiscais de médio prazo sólidos, com regras fiscais bem concebidas e planos específicos para políticas e reformas fiscais, podem ajudar a reduzir a dívida e elevar o investimento.

Os quadros que combinam metas operacionais e para a dívida - e que têm o respaldo de capacidade e instituições adequadas - podem ser especialmente fortes.

Essa abordagem funcionou bem na Jamaica, onde a responsabilidade fiscal foi incluída na lei sobre administração financeira e auditoria. Tal lei estabeleceu uma meta para a dívida pública de 60% do PIB e uma regra que determina a meta anual de equilíbrio fiscal compatível com esse objetivo. A Comissão Fiscal Independente é o árbitro das regras fiscais da Jamaica e emite seu parecer sobre a sustentabilidade da política fiscal, fortalecendo a credibilidade e a prestação de contas.

Planejar com antecedência também significa estar preparado para a certeza dos choques econômicos. Uma regra de ouro na formulação de políticas é que um país formule políticas que se adaptem às suas circunstâncias. Os choques são uma característica permanente da realidade dos pequenos Estados do Caribe. Portanto, a política econômica no Caribe deve fazer provisões para a inevitabilidade dos choques econômicos. Na lei jamaicana, há cláusulas de salvaguarda para o caso de grandes choques e um mecanismo de ajuste automático para assegurar a volta à meta da dívida.

Fundos soberanos bem projetados e transparentes também podem ajudar a estabilizar as finanças públicas quando ocorrem choques. Por exemplo, o fundo soberano de Trinidad e Tobago isola a política fiscal das flutuações do preço do petróleo. Já o fundo da Guiana ajuda a administrar as receitas de recursos naturais, financiar investimentos e poupar para o futuro. E São Cristóvão e Névis está estudando a possibilidade de criar um fundo para suavizar as receitas voláteis do programa de cidadania com base no investimento.

O planejamento contra choques é cada vez mais importante em regiões como o Caribe, que enfrentam ameaças recorrentes de desastres naturais.

Nossos países precisam estar preparados antes que os desastres ocorram.

A recorrência de desastres naturais causa danos à infraestrutura produtiva e dificulta o desenvolvimento humano, restringindo ainda mais o crescimento da produtividade.

Os grandes desastres naturais custam, em média, 2% do PIB por ano nos países do Caribe e cerca de 4% do PIB nos países do Caribe Oriental.

A preparação para desastres tem uma dimensão física, que envolve o investimento em infraestrutura resiliente.

Existe também uma dimensão financeira, que implica desenvolver mecanismos resilientes de transferência de riscos, ativos contingentes e seguro.

Infelizmente, o aumento dos prêmios de resseguro privado em todo o mundo está tornando essa tarefa ainda mais difícil. Os prêmios de seguros nacionais também têm subido. O resultado é uma cobertura de seguro menor no setor privado e, assim, um ônus possivelmente maior para os governos quando ocorre um desastre natural.

Os países do Caribe podem conseguir uma estrutura de seguro abrangente com várias camadas: um autosseguro na forma das reservas fiscais próprias, a participação em acordos de transferência de riscos combinados, o financiamento contingente e títulos de catástrofes.

Com relação à primeira camada, na Jamaica, a legislação prevê que se poupe anualmente em um fundo para desastres naturais. Reconheço, porém, que no caso de alguns países, as reservas próprias diminuíram desde a pandemia e precisam ser reconstruídas.

Na segunda camada, o Mecanismo de Seguro de Risco para Catástrofes no Caribe (CCRIF) ajuda a preencher uma lacuna importante. A cobertura tem melhorado sistematicamente desde sua criação, e o CCRIF fez pagamentos sem demora após diversos desastres naturais. Destaca-se pagamento de US$ 85 milhões a cinco países, Granada, São Vicente e Granadinas, Trinidad e Tobago, Ilhas Cayman e Jamaica, em questão de dias após o furacão Beryl, salientando a importância regional desse mecanismo. Ampliar ainda mais a cobertura seria vantajoso no longo prazo.

Na terceira camada, de financiamento contingente, o Banco Mundial aprovou opções de saque diferido no caso de catástrofes para Barbados, Dominica, Granada, Jamaica, Santa Lúcia e São Vicente e Granadinas, entre outros países no seu inventário. Além disso, Granada e São Vicente e Granadinas já recorreram a esses instrumentos na esteira de desastres naturais.

Ademais, o BID tem mecanismos de crédito contingente com Antígua e Barbuda, Bahamas, Barbados, Jamaica e São Vicente e Granadinas, entre outros países.

Na quarta camada, a Jamaica, com assistência do Banco Mundial, patrocinou de forma independente dois títulos de catástrofes.

Agora, para que fique claro, a estabilidade, a resiliência e a transferência de riscos, por si só, não proporcionam automaticamente o crescimento elevado necessário. Contudo, sem estabilidade, não é possível alcançar níveis elevados de crescimento econômico. Ademais, a estabilidade e a resiliência preparam o terreno para o alongamento do ciclo econômico ao reduzir consideravelmente o prêmio de risco de um país, baixar o custo do capital, estender a fronteira da viabilidade econômica dos projetos e oferecer a capacidade anticíclica para responder a choques, limitando, assim, a duração e a intensidade das fases de contração e proporcionando períodos mais longos e ininterruptos de crescimento econômico consecutivo. A experiência da Jamaica demonstra essas relações.

Para alcançar um crescimento mais alto, além da estabilidade, as autoridades precisam abordar de forma resoluta os fatores que elevam o crescimento potencial, começando pelo déficit de produtividade.

Abordar de forma resoluta os obstáculos estruturais para aumentar a produtividade no nível das empresas

Para fazer face ao desafio do crescimento, é necessário reverter o declínio do crescimento potencial do Caribe 1) melhorando a produtividade total dos fatores e 2) elevando o investimento em capital físico e humano.

Nossa análise para a ECCU mostra que grande parte das perdas da produtividade total dos fatores decorre dos altos custos de financiamento, da administração tributária complicada, da ineficiência no licenciamento de empresas e obtenção de permissões, e da incompatibilidade de qualificações da força de trabalho. Pela minha experiência, isso também pode se aplicar à maior parte do Caribe para além da ECCU.

Superar esses obstáculos poderia render ganhos substanciais de produtividade que variam de 34% a 65%, o que seria um resultado incrível! Com isso, seria possível reduzir a diferença de renda per capita com os Estados Unidos em 9 a 27 pontos percentuais.

Simplificar e digitalizar os procedimentos de regulação, licenciamento de empresas, concessão de autorizações e pagamento de tributos

Uma medida prática é promover a digitalização das sociedades caribenhas, o que pode aumentar consideravelmente a produtividade. Isso exigirá uma estratégia multifacetada, com investimento em infraestrutura digital, transformação digital do governo, redução de custos, aumento da disponibilidade de transmissão de dados e melhoria da alfabetização digital, entre outros fatores.

A aplicação de ferramentas e tecnologias digitais para melhorar o acesso aos serviços do governo e, ao mesmo tempo, reduzir prazos, deve ser vista como um imperativo inegociável. Como exemplo óbvio, melhorar ainda mais o acesso dos contribuintes a serviços do governo digitais - possibilitando que usem meios eletrônicos para fazer pagamentos, protocolos e registros - não apenas reduzirá a carga administrativa, como também incentivará a conformidade, promovendo uma melhoria do ambiente para o empreendedorismo.

Em grande parte do Caribe, as empresas precisam atravessar um complexo labirinto de regimes de licenciamento, autorização e regulação. Isso restringe a produtividade. Embora as maiores empresas tenham escala para absorver as ineficiências, as empresas menores são sufocadas por processos excessivamente onerosos. Sabemos que a vitalidade econômica de um país está ligada ao modo como o ambiente de negócios acolhe as empresas de pequeno e médio porte.

Assim, há um enorme espaço na região para simplificar bastante os processos regulatórios e eliminar etapas desnecessárias. Além disso, a digitalização dos procedimentos de licenciamento, autorização e regulação promete aumentar a eficiência das empresas e, assim, impulsionar a produtividade.

Melhorar o acesso a financiamento

Isso me leva a outra medida prática: melhorar o acesso a financiamento, que pode incentivar a abertura de novas empresas e apoiar a transição para o setor formal, mais produtivo. Financiamento é o oxigênio dos negócios e é essencial que esteja disponível de forma ampla e acessível para se ter um ambiente de negócios dinâmico.

Poderíamos ter uma sessão inteira sobre como melhorar o acesso a financiamento, pois ele é fundamental ao extremo, porém multifacetado e complexo demais.

Muitos fatores prejudicam o acesso a financiamento no Caribe. Quero mencionar alguns deles.

Primeiro, deficiências já antigas nos balanços patrimoniais dos bancos limitam o acesso a crédito, a investimento e a crescimento em toda a região. Assim, é importante atacar as vulnerabilidades do setor bancário. Destaco cumprir as normas regulatórias dentro dos prazos estabelecidos e buscar maneiras mais fáceis para alienar ativos depreciados. Está havendo avanços: os bancos estão acumulando reservas e reduzindo os índices de empréstimos improdutivos. Mas é necessário trabalhar mais para que todos os bancos cumpram os requisitos mínimos regulamentares.

Reduzir os custos da resolução de empréstimos improdutivos reduz, em última análise, o custo dos empréstimos. Isso pode ser feito se os regimes de insolvência forem modernizados de modo a incentivar a reestruturação extrajudicial mais rápida das dívidas. As empresas de gestão de ativos - se devidamente financiadas - facilitariam a alienação de ativos.

A infraestrutura de garantias também deve ser fortalecida por meio de cadastros de crédito eficazes e de regimes de garantia parcial de crédito. Por exemplo, o recém-criado serviço de proteção ao crédito regional no Caribe Oriental pode ajudar a reduzir o custo e o tempo das avaliações de risco de crédito e a fechar as lacunas decorrentes da assimetria de informações. Isso ajudará as pequenas e médias empresas a ter acesso a crédito e, ao mesmo tempo, protegerá a qualidade do crédito.

Quadros mais sólidos de combate à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo podem ajudar a proteger o sistema financeiro contra ameaças externas e a manter relacionamentos com bancos correspondentes, cuja falta impede o acesso a crédito.

Essas medidas destinadas ao setor financeiro são absolutamente necessárias, mas estão longe de ser revolucionárias.

A revolução do acesso a crédito na região pode se concretizar com a adoção de sistemas de pagamento móveis em tempo real que permitam transferências instantâneas, 24 horas por dia, 7 dias por semana, como no caso da Interface de Pagamentos Unificada (UPI), na Índia, e do Pix, aqui mesmo no Brasil.

Nesses dois países, essas inovações não apenas transformaram o acesso a financiamento e aos serviços financeiros, como também aumentaram a inclusão. As transações são gratuitas ou têm um custo desprezível, e essas plataformas de pagamento estão integradas aos aplicativos dos bancos e às plataformas de comércio eletrônico.

Naturalmente, esses sistemas só existem no contexto de sistemas de identificação nacionais que possibilitem as verificações de identidade necessárias, conforme exigido.

Aproveitar as oportunidades da transição para as energias renováveis.

O uso de petróleo importado para gerar eletricidade é caro e elevou bastante os preços da energia elétrica, o que prejudica a competitividade, sobretudo no caso do setor de turismo, em detrimento do crescimento potencial.

Em dezembro passado, no Fórum do Caribe em Barbados, discutimos que uma boa transição energética pode promover um crescimento inclusivo, sustentável e resiliente.

Essa transição será diferente para os países importadores e para os exportadores de energia.

Para os importadores, a diversificação graças ao uso da energia renovável, com um rápido declínio dos custos, pode reduzir a dependência da importação cara e volátil de petróleo. Além disso, proporcionaria um alívio em relação ao preço de uma energia elétrica que figura entre as mais caras do mundo. Não percam de vista que a eletricidade em muitos países do Caribe custa, no mínimo, duas vezes mais do que nas economias avançadas. Isso vem sendo discutido na região há muito tempo. Tempo demais.

A transição energética reforçaria a sustentabilidade externa no caso dos importadores de energia e os tornaria mais competitivos e mais resilientes a choques, além de elevar a probabilidade de crescerem mais rápido e de forma sustentável.

Contudo, para aproveitar essas oportunidades, é preciso enfrentar obstáculos importantes. Por exemplo, os custos iniciais de investimento são altos. O espaço fiscal é limitado. O investimento privado enfrenta barreiras regulatórias. E mercados pequenos e redes isoladas impedem economias de escala.

Assim, a transição para as energias renováveis exigirá tempo e investimento. Também será necessário coordenar os esforços em escala regional.

Um passo imediato e com boa relação custo-benefício é implementar medidas visando a eficiência energética. Por exemplo, Barbados e Jamaica modernizaram prédios públicos com equipamentos mais eficientes em termos de energia. Isso possibilita uma economia rápida, de modo geral sem custos iniciais elevados.

No âmbito regional, iniciativas como o Mecanismo de Investimento em Infraestrutura de Energia Renovável Resiliente - lançada pelo Banco Central do Caribe Oriental com apoio do Banco Mundial - são um avanço promissor.

Os mecanismos regionais para promover compras conjuntas e harmonizar os quadros regulatórios também serão fundamentais.

Os exportadores de energia do Caribe enfrentam um conjunto diferente de desafios. Destaca-se, acima de tudo, a difícil tarefa de administrar a variação da demanda por combustíveis fósseis e das receitas fiscais e, ao mesmo tempo, maximizar o valor das reservas existentes.

Mas a transição energética também é uma oportunidade para diversificar, ingressando nos setores de energia verde do futuro, como os petroquímicos verdes e o hidrogênio verde.

Os exportadores de energia também precisarão estar atentos às repercussões das políticas climáticas de outras regiões, como os mecanismos de ajuste de carbono nas fronteiras. Por exemplo, Trinidad e Tobago está exposto ao mecanismo de ajuste de carbono nas fronteiras da União Europeia, que poderia afetar mais de 5% do total das exportações do país, e outros 5% estarão em risco caso a UE amplie esse mecanismo.

Contudo, os países exportadores de energia também podem transformar esse tipo de repercussão em uma vantagem. Com a adoção de sistemas de precificação de carbono próprios, podem reter a receita em suas economias, evitando que seja recolhida por seus parceiros comerciais.

Investir em capital humano, fechar a brecha da qualificação e investir em infraestrutura física

O investimento mais importante que os países do Caribe podem fazer é no impulso ao capital humano da região. O desenvolvimento do capital humano é multifacetado, mas hoje vou me concentrar nos elementos centrais da educação e da qualificação.

Investir em capital humano; atacar a brecha da qualificação

Em vista do pequeno porte das economias caribenhas e da falta de economias de escala, o sucesso econômico será determinado pelo nível e qualidade do capital humano na região.

Níveis elevados de crescimento econômico exigirão melhorias substanciais nos resultados em termos de educação e qualificação no Caribe, e em alguns países mais do que em outros. Esse esforço merece a energia e a atenção da região.

Uma pesquisa recente para a ECCU destaca a escassez de mão de obra qualificada como uma das principais restrições enfrentadas pelas empresas. Sei que a brecha da qualificação também é uma realidade na Jamaica e pode ser generalizada em grande parte do Caribe.

O que pode ser feito? A resposta tem dois lados: reforçar as qualificações dos que já estão empregados e oferecer oportunidades para os que estão qualificados, mas ainda não ingressaram no mercado de trabalho.

A ampliação do ensino profissionalizante e a modernização dos sistemas de ensino, combinados com políticas ativas para o mercado de trabalho, podem ajudar a reduzir a brecha da qualificação. E as ferramentas digitais podem conectar empregadores e empregados em potencial.

As tecnologias emergentes, como a inteligência artificial, tornam ainda mais importante eliminar essa brecha. A oportunidade é que as tecnologias em rápida evolução poderiam trazer altos ganhos de produtividade, mas existe a ameaça de que deixar de atualizar as qualificações poderia expor setores importantes para a região, como a terceirização de processos de negócios.

O aproveitamento desse potencial nos países do Caribe passa, por exemplo, pela integração da IA e da ciência de dados em todos os níveis da educação.

A boa notícia é que muitos países da região estão enfrentando diretamente esse desafio.

Por exemplo, meu país natal, a Jamaica, lançou, com apoio do Banco Mundial, uma iniciativa nacional para estudantes do ensino médio nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia, artes e matemática.

Em Barbados, o Plano de Recuperação e Transformação Econômica de 2022 visa melhorar o ambiente de negócios ao promover a digitalização e a capacitação.

Em São Vicente e Granadinas, a atual reforma do ensino tem como foco a modernização e a expansão do ensino técnico e profissionalizante após o ensino médio, com o intuito de alinhar melhor as qualificações e as necessidades do mercado de trabalho.

E em Antígua e Barbuda, a expansão planejada do Campus das Cinco Ilhas da Universidade das Índias Ocidentais oferecerá novas oportunidades no ensino superior e para o desenvolvimento de talentos regionais.

Contudo, mais pode, e deve, ser feito em cada um desses países. A meta da política educacional deve ser fazer com que as escolas do Caribe se classifiquem no quartil superior dos padrões de referência do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA).

Ao criar mais oportunidades, trazer mais mulheres para o mercado de trabalho pode contribuir para o crescimento econômico.

Estimamos que eliminar a desigualdade de gênero na ECCU - superior a 11 pontos percentuais, em média - poderia elevar o PIB regional em cerca de 10%. Trata-se de um forte argumento econômico em favor da aplicação de políticas inclusivas para o trabalho, como a ampliação do acesso a creches e a cuidados para os idosos.

Também é imperativo promover oportunidades para os jovens. Os países do Caribe registram algumas das mais altas taxas de desemprego entre os jovens no mundo, variando de 10% a 40%. Capacitar as gerações futuras é essencial para fazer face ao desafio do crescimento e resiliência na região.

Quero reconhecer os importantes esforços liderados pela Comunidade do Caribe (CARICOM) para trabalhar em favor de uma integração social e econômica mais profunda.

No início deste ano, vimos um progresso tangível. Os países membros da CARICOM estão trabalhando para possibilitar a livre circulação de seus cidadãos entre os países que assim desejarem. Cumpre notar que essa iniciativa também abrange o acesso dos migrantes ao ensino fundamental e médio, a atendimento de saúde de emergência e à atenção primária à saúde.

Reforçar o investimento em infraestrutura

A melhoria da infraestrutura aumenta a produtividade do capital, assim como a produtividade da mão de obra. O Caribe precisará de níveis muito mais altos de investimento para restabelecer e impulsionar o crescimento potencial.

Os trabalhadores dependem do transporte público para o deslocamento entre casa e trabalho. Por exemplo, se cada viagem costuma levar uma hora e meia, em média, e o custo total representa um terço do salário semanal, a produtividade da mão de obra é prejudicada. Transporte de massa eficiente, econômico e acessível aumenta a produtividade. Embora os táxis complementem o transporte por ônibus, não são um substituto eficaz. Esse é um problema maior nos territórios maiores do Caribe e sei que a Jamaica está enfrentando diretamente esse problema.

Da mesma forma, a conectividade de estradas e rodovias, que abre novas oportunidades de investimento e reduz o custo do transporte de pessoas e mercadorias, eleva a produtividade do capital e da mão de obra, e aumenta o crescimento potencial.

O comércio moderno depende da comunicação e, não nos esqueçamos, dos dados. Já havia mencionado isso. Há espaço para reforçar a infraestrutura de telecomunicações e banda larga, reduzir os custos dos dados e ampliar o acesso aos dados. Isso exigirá investimento. Esperamos que seja investimento privado, mas é um investimento que precisará ser facilitado por políticas públicas.

A água é a fonte da vida. Sem água, as comunidades são menos produtivas e as empresas não conseguem funcionar. Por toda a região, será necessário investir bastante em infraestrutura de tratamento, armazenamento e distribuição de água para apoiar o crescimento econômico e melhorar o padrão de vida no médio prazo.

Todos esses elementos de infraestrutura - transporte, banda larga, estradas, água e energia, já mencionados - exigem investimentos consideráveis para manter as sociedades do Caribe competitivas e elevar o crescimento potencial.

No entanto, os governos do Caribe não terão os recursos necessários para financiar esses investimentos com a arrecadação fiscal e, ao mesmo tempo, custear a educação, a saúde, a segurança e outros serviços essenciais.

Assim, os governos precisarão estudar a possibilidade de atrair capital privado local, regional e internacional em transações bem estruturadas para custear as necessidades de infraestrutura para aumentar a produtividade da região.

Isso pode ser feito por meio das diversas modalidades de parcerias público-privadas (PPPs) existentes e com a assessoria de parceiros multilaterais, como a Corporação Financeira Internacional (IFC) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que têm muita experiência na estruturação dessas transações e sabem o que é necessário para despertar o interesse do investidor.

Posso falar por experiência própria - a IFC vem sendo fundamental ao ajudar a Jamaica a montar seu inventário de PPPs.

No entanto, minha recomendação é não desenvolver PPPs sequencialmente, uma de cada vez, iniciando uma enquanto a outra é concluída. Considerando o período de preparação necessário para cada uma, o desenvolvimento sequencial de PPPs levará muito tempo. Em vez disso, sigam uma abordagem programática para as PPPs. Isto é, desenvolvam um inventário de PPPs de infraestrutura em paralelo para que consigam lançá-las no mercado numa sequência rápida. O tempo e os recursos necessários para que os investidores se familiarizem com o macroambiente, a legislação, a arquitetura regulatória, os riscos do país, a incerteza quanto ao sucesso da proposta, etc., precisam ser amortizados ao longo de várias transações, a fim de atrair investidores experientes e com os bolsos forrados, prontos para apresentar propostas competitivas.

PPPs abertas, transparentes, competitivas e bem estruturadas podem ajudar a reduzir o déficit de infraestrutura e elevar a produtividade.

A função do FMI

Este período não tem sido fácil, e tomar essas medidas tampouco é fácil. Elas exigem uma visão clara, coordenação, parcerias, conhecimento técnico e muita, muita energia.

Mas são medidas que podem posicionar os países do Caribe na trajetória do crescimento e resiliência.

Estejam certos de que o FMI continua plenamente empenhado em apoiar nossos países membros em toda a região.

A abrangência quase universal de nosso conjunto de países membros nos dá uma perspectiva global singular e nos valemos de uma grande variedade de experiências com esses países nos últimos 80 anos.

O FMI, com 191 países membros, em comparação com a ONU e seus 192 países membros, é verdadeiramente global. Mantemos relações com cada um de nossos países membros em nível individual, bem como em nível regional com uniões monetárias, como a União Monetária do Caribe Oriental.

Nossos países membros, entre eles os Estados do Caribe, são acionistas e proprietários do FMI. Trabalhamos por vocês. E nosso trabalho tem três modalidades principais: (i) a supervisão, por meio da qual avaliamos e analisamos a economia de nossos países membros a cada um ou dois anos. Essa avaliação, denominada relatório sobre as consultas nos termos do Artigo IV, o artigo do nosso Convênio Constitutivo que determina essa atividade, é uma das principais obrigações dos países membros do FMI. A avaliação, que contém recomendações de política econômica específicas para cada país, é publicada e está disponível gratuitamente on-line. Incentivo os profissionais da mídia, economistas, analistas financeiros, defensores de políticas públicas e cidadãos interessados em seu país e região a acessarem os relatórios do Artigo IV referentes ao seu país e a fazerem bom uso das informações e análises neles contidas.

A segunda modalidade dos serviços que o FMI presta a seus países membros é o desenvolvimento das capacidades. Nesse caso, oferecemos análise técnica e assessoria em política econômica sob medida para questões específicas que os países possam estar enfrentando. Por exemplo, a formulação de medidas de política fiscal, o aumento da eficiência dos gastos públicos, a otimização da gestão da dívida pública, o reforço da capacidade dos órgãos de estatística e o desenvolvimento de ferramentas de política monetária, para citar alguns. Nessa modalidade, também oferecemos cursos para autoridades e servidores públicos por meio de instituições regionais, como o Centro Regional de Assistência Técnica do Caribe (CARTAC), e também na sede do FMI, em Washington, DC.

A terceira modalidade é aquela com a qual a maioria está familiarizada: o FMI oferece financiamento destinado a fazer face a problemas do balanço de pagamentos. Nosso conjunto de ferramentas de empréstimo estabelecido há muito tempo ajuda os países a restabelecer a estabilidade macroeconômica. Na busca do objetivo de retomar a estabilidade macroeconômica, muitos países já tiveram envolvimentos exitosos com o FMI. Na região, Jamaica, Barbados e Suriname vêm logo à mente.

Nas recentes Reuniões de Primavera do FMI, fui moderador de um painel em que o Ministro das Finanças da Grécia afirmou que, neste momento de circunstâncias fiscais muito difíceis na zona do euro, apenas seis países dos 27 membros da UE têm superávits fiscais, e precisamente quatro deles tiveram programas com o FMI durante a crise financeira mundial.

E o FMI continua a evoluir para atender às necessidades de nossos países membros. Nossas linhas de crédito rápido oferecem financiamento de emergência quando ocorrem choques. E a Linha de Crédito para a Resiliência e Sustentabilidade, nosso mecanismo mais recente, oferece financiamento de longo prazo acessível para apoiar os esforços para aumentar a resiliência.

No Caribe, Barbados e Suriname fizeram grandes avanços para posicionar suas economias para o crescimento e, ao mesmo tempo, reduzir as vulnerabilidades no âmbito de seus programas econômicos apoiados pelo Programa de Financiamento Ampliado (Figura). A apropriação das reformas por parte dos países foi fundamental para o sucesso.

A Jamaica teve acesso à Linha de Precaução e Liquidez do FMI, que proporcionou uma reserva de segurança contra choques externos, mas não recorreu a ela. Esse mecanismo apoiou os esforços para manter o crescimento da economia, reduzir a dívida pública, reforçar os quadros financeiros e atualizar os dados macroeconômicos.

O FMI também concedeu financiamento rápido a sete países membros do Caribe durante a pandemia.

E Barbados e Jamaica se beneficiaram da Linha de Crédito para a Resiliência e Sustentabilidade. As reformas ajudaram a incorporar os riscos relacionados ao clima aos quadros macroeconômicos, a oferecer incentivos para que a energia renovável apoiasse o crescimento e catalisar financiamento para investir em resiliência.

Também estamos trabalhando em estreita cooperação com o Haiti por meio de um programa monitorado pelo corpo técnico. Esse programa foi concebido para apoiar os objetivos da política econômica das autoridades e criar um histórico de implementação de reformas, o que poderia abrir caminho para a assistência financeira do FMI.

Naturalmente, a eficácia de nossa assessoria e apoio financeiro é reforçada por nossos esforços contínuos no desenvolvimento das capacidades. Em especial, gostaria de destacar o trabalho do CARTAC, em operação desde 2001.

O CARTAC oferece capacitação e assessoria em políticas a nossos países membros do Caribe em várias áreas: da gestão das finanças públicas e administração tributária e alfandegária à supervisão do setor financeiro e estabilidade financeira, para citar algumas.

Agradecemos imensamente o generoso apoio recebido até o momento para o CARTAC. Contudo, é preciso mais para resolver o déficit de financiamento. Espero que possamos contar com seu trabalho de conscientização junto aos parceiros de desenvolvimento para manter o trabalho essencial do CARTAC.

Desde que ingressei no FMI, vejo o quanto os países avançados dependem da produção intelectual do FMI e fazem uso dela em benefício de seus países, e como essa produção faz parte do discurso público e lhe serve de base em muitos países membros. O FMI é um recurso incrivelmente poderoso que trabalha para vocês; incentivo vivamente os países do Caribe a maximizar estrategicamente seu uso do FMI e do que ele tem a oferecer.

Um chamado à ação

À guisa de conclusão, as autoridades do Caribe estão enfrentando um conjunto complexo de velhos e novos desafios.

Mas períodos de dificuldade também podem ser períodos de oportunidade, ação e determinação.

O Caribe é uma região imensamente promissora, com um rico patrimônio cultural, belezas naturais e uma população vibrante.

O mundo está passando por mudanças profundas. Essas mudanças criam vulnerabilidades globais às quais o Caribe não está imune. É provável que a resiliência de pequenas economias abertas como as do Caribe seja posta à prova.

Portanto, é imperativo que os países do Caribe trabalhem para pôr em ordem as finanças públicas e a macroeconomia e, ao mesmo tempo, promovam reformas estruturais profundas e significativas para aumentar o crescimento potencial das economias caribenhas.

As chaves para o futuro da região estão nas suas mãos. Vocês têm as ferramentas, o talento e a tenacidade para traçar um novo caminho rumo ao crescimento e à resiliência. Sua atuação pode fazer a diferença para as perspectivas do Caribe.

Vimos muitos passos na direção certa para eliminar os gargalos e aumentar a produtividade. Nós os incentivamos a seguir em frente.

Implementem as reformas que estão sob seu controle.

Continuem a trabalhar juntos em toda a região.

Aproveitem a CARICOM para conseguir um mercado maior para o fluxo de pessoas, investimentos e comércio.

Mantenham o foco no objetivo: proporcionar mais resiliência econômica, perspectivas de crescimento mais alto e um padrão de vida melhor para os povos em todo o Caribe.

E contem com o FMI ao longo dessa jornada.

Muito obrigado.

[1] As outras uniões monetárias são: Comunidade Econômica e Monetária da África Central (CEMAC); União Econômica e Monetária da África Ocidental (UEMOA) e União Econômica e Monetária Europeia (UEM).

Departamento de Comunicação do FMI

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