10/08/2025 | Press release | Distributed by Public on 10/08/2025 12:00
Cinco Unidades da Embrapa (Embrapa Solos, Embrapa Maranhão, Embrapa Algodão, Embrapa Amapá, Embrapa Meio-Norte e Embrapa Territorial) participaram do XXXIX Congresso Brasileiro de Ciência do Solos, realizado de 21 a 27 de setembro na Universidade Federal do Maranhão (UFMA) com o tema "Uso do solo e mudanças climáticas". O congresso reuniu pesquisadores, professores e estudantes de diversas regiões do Brasil e do exterior para discutir o desenvolvimento sustentável e soluções para mitigar as emissões de gases de efeito estufa no contexto agrário e ambiental.
A abertura oficial contou com palestras de dois renomados pesquisadores brasileiros que integram o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (IPCC): a professora Mercedes Bustamante e o professor Carlos Cerri. Também participaram pesquisadores internacionais de destaque, como Patricio Grassini, da University of Nebraska-Lincoln, e Robert Gilmore Pontius Jr., da Clark University, referências em intensificação agrícola e variabilidade espacial do solo.
A diretora-executiva de Inovação, Negócios e Transferência de Tecnologia da Embrapa, Ana Euler, fez parte da mesa de abertura do evento. Estiveram presentes também o chefe-geral da Embrapa Maranhão, Marco Bomfim, e o chefe-adjunto substituto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Solos, Fernando Samary.
Ana Euler destacou os 80 anos da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo - SBCS e os 40 anos, em 2026, do CBCS, cuja edição deste aborda o Uso do solo e mudanças climáticas. "É pertinente fazer a conexão entre os 80 anos de história e a contribuição da ciência do solo no Brasil para enfrentar o desafio das mudanças climáticas e seus efeitos com soluções mitigadoras desenvolvidas pela pesquisa. "Estamos aqui para posicionar a Embrapa e trazer conhecimento científico para a saúde única. Solo saudável, planta saudável, pessoas saudáveis e planeta saudável. Essa é a mensagem que levaremos para a COP 30, o papel da ciência e tecnologia no enfrentamento das mudanças climáticas".
Na mesa-redonda sobre "Resiliência climática e segurança do solo e dos alimentos nos biomas brasileiros", Euler abordou "Tecnologias e inovações para a resiliência climática com vistas à segurança do solo e de alimentos". O pesquisador José Carlos Polidoro explanou sobre "O cenário climático brasileiro e a agricultura: agricultura familiar vs grandes commodities nos biomas brasileiros". Segundo ele, o solo é a grande saída para combater as mudanças de clima. Durante as discussões, tratou-se de como levar as tecnologias para pequenos, médios e grandes produtores. "Unir assistência técnica e políticas públicas foram estratégias defendidas pela diretora e por mim, respectivamente".
A sessão técnica sobre "Serviços ecossistêmicos do solo (SES): saindo da invisibilidade" foi proposta, segundo a pesquisadora da Embrapa Solos Rachel Bardy Prado, para evidenciar os serviços ecossistêmicos, que são os benefícios para a humanidade que o solo proporciona gratuitamente o tempo todo, como regulação hídrica, estoque de carbono, controle de erosão e a produção de alimentos. Para ela, essa abordagem é importante porque aproxima mais os tomadores de decisão, técnicos e gestores locais. Também fomenta mecanismos de compensação pelos serviços ambientais como o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) e os mercados de carbono.
"Foram dez trabalhos apresentados na sessão que trouxeram diferentes visões para essa abordagem e em diferentes escalas, como os realizados na escala local, a maioria na região do Matopiba, onde há o desafio de conciliar a expansão da agricultura com a sustentabilidade.Também foram apresentados resultados sobre a modelagem dos SES na escala de bacia hidrográfica e metodologias para trazer a aplicação da abordagem para a escala regional, gerando zoneamentos que possam nortear o planejamento da agricultura de forma sustentável", pontuou Prado.
Houve também mesas-redondas sobre Pedometria aplicada e Mapeamento digital de solos: fundamentos e aplicações, para mapear atributos e classes de solos, com a pesquisadora da Embrapa Solos Maria de Lourdes Mendonça, pioneira em trazer esse tema para o País. "Com base no capítulo 8 do livro Solos do Maranhão: gênese, classificação e pedometria, lançado no evento, levamos para o público a origem e os princípios do mapeamento digital de solos".
O livro reúne o conhecimento de dezenas de pesquisadores e cientistas que aliam rigorosa formação científica com vasta experiência profissional, não apenas sobre os solos do Maranhão em seu contexto natural, formação geológica, sua morfologia e os efeitos do clima e da vegetação sobre sua variação, mas também sobre a interação desses fatores ao longo do tempo, o que resulta na grande variabilidade desses solos. Esses estudos mostram que, a diversidade que se observa no estado do Maranhão evidencia a estreita relação entre os processos pedogenéticos e as particularidades geoambientais e climáticas do Maranhão. Segundo Lourdes, os conhecimentos obtidos nos processos de geração desses dados serão essenciais para o desenvolvimento de programas sobre segurança alimentar, modelos de ciclagem de nutrientes, acúmulo e ciclagem de carbono no solo, e no conjunto, para a manutenção da biodiversidade e manutenção dos nossos ecossistemas.
Outros pesquisadores da Embrapa marcaram presença em mesas redondas: Ademir Fontana (Embrapa Gado de Corte) - Black Soils: Rede Internacional FAO/ITPS, conceitos e distribuição mundial e na America Latina; Henrique Antunes de Souza (Embrapa Meio Norte) - Ciclagem de nutrientes e dinâmica da matéria orgânica do solo em sistemas de produção agropecuários sustentáveis no MATOPIBA; e Vinicius Melo Benites (Embrapa Solos) - Recentes avanços sobre a eficiência e mecanismos de ação de fertilizantes organominerais.
Lançamento
Momento importante da participação da Embrapa foi o lançamento do livro da Reunião de Classificação e Correlação de Solos - RCC e da 6ª edição do Sistema Brasileiro de Classificação de Solos - SIBCS na modalidade impressão sob demanda. Esse livro é referência para pesquisadores, professores, estudantes e produtores agrícolas desde 1999, sendo considerado um best seller científico. As cinco primeiras edições registraram mais de 37 mil exemplares físicos vendidos. A 6ª edição do SiBCS foi lançada em julho no formato PDF e pode ser baixada gratuitamente no portal da Embrapa.
A nova edição consolida o avanço do conhecimento dos solos brasileiros adquirido por meio de diversos estudos realizados nos últimos sete anos pela comunidade pedológica nacional, incluindo o desenvolvimento de teses e dissertações em diversos centros de ensino e pesquisa do País, levantamentos de solos executados em diferentes escalas e extensão territorial e, principalmente, a realização das últimas três RCCs, nas regiões Nordeste (Maranhão), Centro-Oeste/Norte (Goiás e Tocantins) e Norte (Amazonas e Pará).
José Francisco Lumbreras, pesquisador da Embrapa Solos, explica que o SiBCS é uma referência para a Ciência do Solo no Brasil, especialmente na área de classificação de solos, sendo muito relevante também para o ensino e extensão em universidades e institutos federais em áreas como as agrárias, geografia e geologia. Já o livro da RCC classifica 17 perfis de solos em 29 capítulos distribuídos em cerca de 800 páginas.
Em busca do conhecimento do solo
A pesquisadora da Embrapa Solos Maria de Lourdes Mendonça, que é membro da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo e da Aliança Mundial para o Solo da FAO participou do evento e destaca que a carência de informações detalhadas sobre os solos brasileiros é um sério problema para o desenvolvimento nacional. Segundo informa, atualmente, o País dispõe apenas de levantamentos de solo de caráter geral, com mapas de pequena escala, sendo que menos de 5% do território nacional conta com mapas de solos em escalas bastante detalhadas, ou seja, de 1:100.000 ou maior.
Para reverter essa situação, há o Programa Nacional de Solos do Brasil, o PronaSolos, coordenado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária e envolve dezenas de instituições parceiras, dedicadas à investigação, documentação, inventário e interpretação dos dados de solos brasileiros. O objetivo é mapear os solos de 1,3 milhão de km² do País nos primeiros dez anos, e mais 6,9 milhões de km² até 2048, em escalas que vão de 1:25.000 a 1:100.000.
"Atualmente fazemos agricultura com uma venda nos olhos, pois conhecemos menos de 5% dos nossos solos em escalas de 1:100.000 ou mais detalhadas. Até hoje produzimos conhecimento essencialmente com os dados e mapas produzidos pelo Radam Brasil, em escalas de 1:1.000.000, enquanto os Estados Unidos, nosso concorrente na balança comercial, conhecem seus solos em escalas de 1:25.000 ou 1:20.000. Temos a responsabilidade de deixar, em nome de nossa geração e das gerações passadas de pedólogos do Brasil, o caminho pavimentado e estruturado para o PronaSolos, um programa que vai durar 30 anos e que será continuado pelas novas gerações", disse Maria de Lourdes.
UFMA é anfitriã
Para o professor Glecio Machado, do Laboratório de Solos e Recursos Ambientais (Labsolos) da UFMA, que atuou na organização dessa edição do evento, sediar o congresso foi um marco para a instituição e para o estado. "Trazer o evento para o Maranhão é respeitar o papel do estado para a produção agrícola nacional, uma vez que o estado faz parte do MATOPIBA, a nova fronteira agrícola do país. O evento foi um momento de fortalecimento das redes de cooperação em ciência do solo, agrárias, tecnológicas, exatas e ambiental e de compartilhamento de informações na fronteira do conhecimento", avaliou Machado.
Segundo ele, uma das grandes novidades foi a realização da I Competição Brasileira de Solos, que integrou a programação oficial do congresso. A atividade, inédita em nível nacional, desafiou equipes de estudantes de graduação e pós-graduação a aplicar, em campo, conhecimentos técnicos na identificação, classificação e interpretação de solos. O objetivo foi promover a integração entre teoria e prática, estimular o interesse acadêmico e valorizar a formação profissional. "Conseguir realizar a primeira Competição Brasileira de Solos foi um marco para a sociedade científica brasileira e para o Maranhão. A competição, além de ter seu caráter competitivo, também foi um momento de troca de conhecimento", explicou o professor.