ECLAC - Economic Commission for Latin America and the Caribbean

10/23/2024 | Press release | Distributed by Public on 10/23/2024 12:21

Valor das exportações de bens da América Latina e do Caribe crescerá 4% em 2024: novo relatório da CEPAL

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23 de outubro de 2024|Comunicado de imprensa

Na última edição do documento "Perspectivas do Comércio Internacional da América Latina e do Caribe", a comissão regional das Nações Unidas indica que, por outro lado, as exportações de serviços aumentarão a uma taxa de dois dígitos pelo quarto ano consecutivo.

Após cair 1% em 2023, em um contexto de retração do comércio mundial, as exportações regionais de bens se recuperarão em 2024, informou hoje a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) ao divulgar uma nova edição de seu relatório anual sobre o comércio exterior da região.

O relatório Perspectivas do Comércio Internacional da América Latina e do Caribe, 2024. Reconfiguração do comércio mundial e opções para a recuperação regionalfoi apresentado hoje em uma coletiva de imprensa pelo Secretário Executivo da CEPAL, José Manuel Salazar-Xirinachs. De acordo com o documento, o valor das exportações de bens da região crescerá 4%, como resultado de uma expansão de volume de 5% e uma queda nos preços de 1%. Para as importações, projeta-se um aumento de 4% no volume e uma queda de 2% nos preços, resultando em um aumento projetado de 2% em seu valor.

Por setores, o maior aumento projetado em termos de valor ocorrerá nas exportações agrícolas (11%), seguidas pelas de mineração e petróleo (5%) e manufaturas (3%). Por sub-regiões, projeta-se que os maiores aumentos ocorrerão no Caribe (23%) e na América do Sul (5%). O elevado índice para o Caribe se deve principalmente ao notável aumento do volume de exportações de petróleo da Guiana e do Suriname. Na América do Sul, destacam-se os aumentos no volume exportado de produtos agrícolas como soja, milho e trigo. O aumento projetado no valor das exportações do México e da América Central - mais intensivas em manufaturas - fica abaixo da média regional (2% e 1%, respectivamente). Por parceiros comerciais, projetam-se aumentos das exportações para a China (6%), Estados Unidos (4%) e União Europeia (3%); por outro lado, as exportações intrarregionais cairiam 5%. Com isso, o coeficiente de comércio intrarregional cairia de 14% em 2023 para 13% em 2024.

Por outro lado, a CEPAL projeta que o valor das exportações regionais de serviços aumente 12% em 2024. Este será o quarto ano consecutivo de crescimento a taxas de dois dígitos, impulsionadas principalmente pelo turismo e pelos serviços modernos fornecidos digitalmente. Em contraste, projeta-se um crescimento de apenas 1% para as importações regionais de serviços em 2024, em linha com o baixo dinamismo da atividade econômica.

Apesar da recuperação das exportações regionais de bens e serviços, o relatório adverte que persiste o grande desafio de diversificá-las e torná-las mais intensivas em conhecimento. A complexidade desse desafio é ainda maior em um contexto mundial onde as tensões geopolíticas e o crescente protecionismo colocam em dúvida o tipo de globalização que prevaleceu nas últimas décadas, acrescenta.

"A implementação de políticas de desenvolvimento produtivo com um enfoque de clusters, baseada em uma estreita colaboração público-privada e em um esforço sustentado ao longo do tempo, surge como um mecanismo idôneo para avançar nessa direção, bem como para posicionar competitivamente a região frente à reconfiguração em curso das cadeias globais de valor", afirma o Secretário Executivo do organismo regional das Nações Unidas, José Manuel Salazar-Xirinachs.

Em seu segundo capítulo, o relatório da CEPAL aborda o papel do comércio na segurança alimentar da América Latina e do Caribe. Indica que as sucessivas crises que a economia mundial sofreu nos últimos anos causaram retrocessos na consecução da meta 2.1 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável: até 2030, acabar com a fome e garantir o acesso a todas as pessoas a uma alimentação saudável, nutritiva e suficiente durante todo o ano.

De acordo com o documento, na América Latina e no Caribe, 41 milhões de pessoas (6,2% da população regional) sofreram fome em 2023 (4,7 milhões de pessoas a mais do que em 2019). A prevalência da fome no Caribe (17,2%) triplica a registrada na América do Sul (5,2%) e na América Central e México (5,8%). Em 2023, 30,3% das mulheres adultas da América Latina e do Caribe sofreram insegurança alimentar moderada ou grave, 5,2 pontos percentuais a mais do que os homens. Da mesma forma, a insegurança alimentar atinge mais a população rural (32,2%) do que a urbana (26%).

Nesse sentido, o comércio internacional desempenha um papel crucial na segurança alimentar. As importações permitem o acesso a alimentos cuja produção local é impossível ou muito cara devido a condições climáticas ou à insuficiente disponibilidade de terra ou tecnologia. Além disso, podem suprir a produção local diante de choques temporários como pragas, conflitos ou fenômenos climáticos extremos. Por outro lado, as receitas geradas pelas exportações podem ser destinadas à aquisição de alimentos.

A América Latina e o Caribe é a principal região exportadora líquida de alimentos no nível mundial. Suas exportações de alimentos alcançaram 349 bilhões de dólares em 2022, seu maior nível histórico. A América do Sul responde pela maior parte das exportações e do superávit regionais, enquanto a sub-região da América Central e México é levemente superavitária, e o Caribe registra um déficit persistente. O valor das importações de alimentos supera 20% das exportações totais de bens e serviços em 15 países da região, dos quais 12 pertencem ao Caribe.

A CEPAL sustenta que o fortalecimento da integração regional é essencial para um fornecimento regional de alimentos mais estável e de menor custo. Por um lado, um mercado regional integrado amplia a oferta de alimentos e insumos de origem próxima, diminuindo a exposição a perturbações na oferta provenientes de terceiros mercados. Por outro lado, uma maior integração regional favorece a criação de encadeamentos produtivos que promovem o desenvolvimento econômico e social por meio da geração de emprego, contribuindo assim para uma maior segurança alimentar.

Para fortalecer a contribuição do comércio para a segurança alimentar na região, o relatório recomenda avançar nas seguintes áreas: 1) facilitação do comércio de alimentos (implementação plena de guichês únicos, agilização de inspeções fronteiriças etc.); 2) harmonização ou reconhecimento mútuo de regulamentações sanitárias, fitossanitárias e técnicas; 3) melhoria da logística do comércio de alimentos, especialmente no Caribe; 4) fortalecimento da rede de acordos comerciais entre países e grupos da região; e 5) coordenação em fóruns multilaterais.

Em seu terceiro capítulo, o documento da CEPAL examina o potencial dos serviços para dinamizar as exportações regionais. Em um contexto de estagnação da renda per capita na América Latina e no Caribe na última década e de baixo crescimento no volume de suas exportações de bens (1,6% ao ano no mesmo período), as exportações de serviços poderiam ser um novo motor de crescimento para o setor externo. Em 2023, as exportações regionais de serviços chegaram a 221,7 bilhões de dólares, superando seu nível pré-pandemia. No entanto, os serviços representam apenas 14% das exportações de bens e serviços da região, abaixo de sua participação no nível mundial (25%).

Entre os setores destacados de serviços estão turismo, transporte e serviços modernos fornecidos digitalmente. Estes últimos tiveram sua maior participação nas exportações do MERCOSUL (59%) e a menor nos envios da Comunidade do Caribe (CARICOM) (10%). O turismo é a principal exportação de serviços em todas as agrupações sub-regionais, exceto no MERCOSUL.

O relatório conclui que, para aproveitar o alto crescimento da demanda mundial por serviços modernos, os países da América Latina e do Caribe devem fortalecer as políticas produtivas em colaboração com o setor privado. Entre as áreas prioritárias estão melhorar a medição do comércio de serviços, fortalecer as habilidades digitais e de idiomas da população, fechar as lacunas de infraestrutura digital e implementar programas voltados para promover as exportações de serviços e atrair investimento estrangeiro direto (IED). Este último é fundamental para trazer novas tecnologias, melhorar a produtividade e gerar clusters e cadeias de valor em torno dos serviços.