Ministry of Foreign Affairs of the Federative Republic of Brazil

12/12/2025 | Press release | Distributed by Public on 12/12/2025 14:16

Intervenção do Ministro Mauro Vieira na Reunião de Sherpas do BRICS – encerramento da presidência brasileira - 11/12/2025

Estimados Sherpas,

Estimados Embaixadores,

Prezados Colegas,

É um prazer recebê-los mais uma vez em Brasília.

Permitam-me, antes de tudo, reconhecer os muitos ministérios e órgãos brasileiros aqui representados. O trabalho realizado ao longo deste ano foi, de fato, um esforço de governo como um todo. Ele reflete não apenas a amplitude da agenda do BRICS, mas também o quanto nossa cooperação agora vai muito além das áreas tradicionais de coordenação política e financeira.

Isso foi plenamente registrado no relatório de transferência apresentado anteriormente, que fornece um relato detalhado das reuniões e iniciativas realizadas ao longo da Presidência brasileira.

Vale destacar o aumento das atividades do BRICS nos últimos anos, especialmente após a expansão. Quando o Brasil ocupou a presidência pela última vez, em 2019, organizamos cerca de 120 reuniões e 16 encontros ministeriais. Neste ano, realizamos quase 230 reuniões técnicas e 22 reuniões ministeriais.

Organizar tal volume de atividades exige um esforço institucional considerável; acompanhá-las não é menos desafiador para os Estados-membros. A ampliação de nosso programa deixa evidente que nossos três pilares originais de cooperação já não capturam plenamente o alcance temático de nosso trabalho.

Essa evolução é inseparável de desenvolvimentos globais mais amplos. A ascensão coletiva das economias emergentes - representadas por nossos países - moldou significativamente a trajetória do Sul Global. Do ponto de vista do BRICS, o Sul Global tornou-se uma força motriz importante na transformação da governança global. A sequência de presidências do G20 assumidas por Indonésia, Índia, Brasil e África do Sul colocou as prioridades dos países em desenvolvimento no centro da agenda econômica internacional.

Reunimo-nos quase oitenta anos após a criação da ordem internacional do pós-Segunda Guerra Mundial. Esse sistema tinha suas limitações, como o Brasil tantas vezes afirmou, mas forneceu estabilidade e uma plataforma para cooperação.

Muitos de nós argumentamos, por muito tempo, que reformas eram necessárias em diversos fóruns. O que vemos hoje, no entanto, vai além de reformas: trata-se do desmantelamento de instituições sem um entendimento compartilhado sobre o que as substituirá. Esse vazio pode servir a alguns poucos, mas não atende à maioria dos Estados.

Foi nesse contexto que a participação do Secretário-Geral das Nações Unidas, do Diretor-Geral da Organização Mundial do Comércio e do Diretor-Geral da Organização Mundial da Saúde na Cúpula do BRICS, no Rio de Janeiro, ganhou particular relevância. A presença deles destacou tanto o reconhecimento do BRICS como ator relevante na governança global quanto a expectativa de que nosso grupo possa contribuir para reconstruir a confiança no multilateralismo e na ordem internacional.

Ao longo do ano, o BRICS demonstrou capacidade de adaptação. Quando confrontados com circunstâncias urgentes, respondemos. Os acontecimentos que enfrentamos este ano no âmbito do comércio levaram a um foco reforçado no trabalho relacionado ao tema. Pudemos emitir uma declaração conjunta sobre o conflito Irã-Israel, expressando solidariedade a um país membro do BRICS. Em setembro, a pedido do Presidente Lula, convocamos uma videoconferência de líderes. Essas ações ilustram a flexibilidade do nosso grupo e o papel que ele passou a desempenhar em nossas políticas externas.

Ao mesmo tempo, estamos conscientes de que a construção de consenso é cada vez mais complexa em um grupo que se expandiu tanto em número de membros quanto em escopo temático. Ainda assim, nossa influência dependerá precisamente de nossa capacidade de encontrar consensos significativos que reflitam convergências reais. Cada um de nossos países tem peso quando age sozinho; agindo juntos, podemos moldar uma nova ordem internacional na qual economias emergentes de diferentes continentes tenham sua voz efetivamente ouvida.

O grande interesse em aderir ao BRICS reflete essa influência. Devemos dar boas-vindas a esse interesse, mas também reconhecer a importância de consolidar o grupo em sua configuração atual antes de considerar novas expansões. A criação da categoria de "país parceiro" foi um grande avanço, que ajudou a reduzir a pressão por ampliação e nos deu espaço para observar como esses Estados se engajam na agenda do BRICS. Gostaríamos de ver maior participação dos países parceiros nos grupos técnicos, mas muitos deles ainda não estão familiarizados com a profundidade e a natureza de nosso trabalho. Devemos todos trabalhar para reduzir essa lacuna.

O interesse em torno do BRICS não se limita à possível adesão. Ao longo do ano, em muitas das reuniões bilaterais que realizei, o BRICS foi um tema recorrente. Há verdadeira curiosidade, mas também um certo grau de desinformação. Melhorar a transparência e comunicar mais claramente nossos objetivos e iniciativas deve ser um dos temas de nossa agenda daqui para frente.

O Brasil entende que maior destaque deve ser dado ao eixo de cooperação. Questões internacionais de grande relevância continuarão centrais em nosso trabalho, mas nossas sociedades também esperam que entreguemos resultados concretos a partir de nossas iniciativas. O BRICS deve ser visto não apenas como um fórum de diálogo entre governos, mas também como uma plataforma capaz de gerar benefícios tangíveis para nossos povos.

Também precisamos ampliar nosso diálogo com a sociedade civil. Ao longo do ano, nossa Presidência fortaleceu canais de diálogo com organizações, instituições acadêmicas, grupos de jovens e o setor privado. Encorajamos esses atores a contribuir com ideias, acompanhar mais de perto as discussões e ajudar a comunicar a relevância do BRICS para públicos mais amplos. Essas iniciativas são um passo importante para garantir que nossa cooperação seja compreendida não apenas dentro dos governos, mas também pelos cidadãos que podem ver no BRICS a busca por soluções práticas e novas perspectivas.

Colegas,

Ao concluirmos a Presidência brasileira, gostaria de agradecer a cada delegação pelo seu engajamento e compromisso com o sucesso de nosso trabalho coletivo. Também gostaria de desejar à Índia todo o sucesso em sua próxima presidência e peço gentilmente à delegação indiana que transmita esses votos ao Ministro Jaishankar.

Muito obrigado.

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