09/08/2025 | Press release | Distributed by Public on 09/09/2025 08:02
Entre os dias 1º e 5 de setembro de 2025, Sergipe foi palco do workshop de lançamento do projeto Raízes Agroecológicas, uma iniciativa internacional voltada para o fortalecimento da agroecologia e da autonomia de famílias agricultoras do sul global.
O evento ocorreu na sede da Embrapa Tabuleiros Costeiros, em Aracaju, além de Riachão do Dantas e Itabaianinha, no interior de Sergipe, reunindo representantes do Brasil, Argentina e Bolívia.
O momento marcou não apenas a abertura oficial de uma iniciativa global, mas também o início de uma rede de cooperação voltada para transformar a forma de produzir alimentos na América Latina.
Objetivos
O projeto, integrante do GP-SAEP ( Global Program on Sustainable Agri-Food Systems and Empowerment of Producers ), nasce de uma urgência: enfrentar a fome, a pobreza rural, as mudanças climáticas e a desigualdade, desafios que afetam de forma ainda mais intensa comunidades originárias e tradicionais, mulheres e jovens agricultores.
A meta é clara: fortalecer, ao longo dos próximos dois anos e meio, a agroecologia com base nas sementes locais, no conhecimento tradicional e no intercâmbio entre povos.
Seu foco está no melhoramento genético participativo (MGP), na conservação da agrobiodiversidade e no intercâmbio de conhecimentos agroecológicos e sementes crioulas, sempre com participação direta de famílias agricultoras, em especial mulheres e jovens.
Para isso, o programa aposta em ações como o MGP, a criação de sistemas de sementes sustentáveis e a formação de redes sociotécnicas de cooperação entre agricultores e pesquisadores.
Organizações parceiras
A iniciativa é financiada pelo Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) e pela União Europeia, com execução do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).
No Brasil, o workshop foi organizado pela Embrapa Tabuleiros Costeiros e Embrapa Cerrados, em parceria com o Movimento Camponês Popular (MCP), além de instituições parceiras como o Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária (INTA , Argentina) e o Instituto Nacional de Inovação Agropecuária e Florestal (INIAF , Bolívia), que enviaram pesquisadores, gestores e técnicos para troca de experiências no Brasil.
Ações realizadas
Mais do que discutir conceitos, os participantes puseram a mão na terra: houve atividades de melhoramento participativo do milho com agricultores locais, redesenho de sistemas agroalimentares e análises práticas sobre manejo agroecológico e conservação da biodiversidade.
Durante cinco dias, os participantes estiveram imersos em oficinas técnicas e atividades práticas. Entre os destaques estiveram:
Além de equipes de Gestão, Pesquisa e Transferência de Tecnologia da Embrapa Tabuleiros Costeiros (Aracaju, SE), participam das ações iniciadas em 2024 em municípios da Bahia e Sergipe os pesquisadores da Embrapa Cerrados (Brasília, DF) Altair Machado, especialista em melhoramento vegetal e agricultura familiar, e Cynthia Torres , especialista em manejo ecológico de solos.
Uma equipe do IICA ficará baseada em Aracaju, na sede da Embrapa Tabuleiros Costeiros, durante a execução do projeto, a fim de facilitar a gestão e o fortalecimento da rede de cooperação.
Esse esforço conjunto promete alcançar mais de 5 mil agricultores e agricultoras nos três países, sendo pelo menos metade mulheres - numa clara aposta na inclusão e no protagonismo feminino no campo.
Passos para o futuro
O encontro também serviu para alinhar responsabilidades e traçar estratégias de continuidade do projeto entre as organizações parceiras. O objetivo é consolidar uma base comum que permita ampliar práticas agroecológicas, fortalecer sistemas de sementes sustentáveis e garantir maior resiliência dos sistemas alimentares locais.
Ao final do workshop, ficou evidente que o Raízes Agroecológicas vai além de um projeto de desenvolvimento: trata-se de um movimento coletivo em defesa da equidade, da sustentabilidade e da autonomia das famílias agricultoras, fundamentado nos saberes locais e na cooperação comunitária e internacional.
Visões
Para o agricultor Alexandre Rodrigues, liderança local do MCP em Riachão do Dantas, os corredores agroecológicos resgatam saberes e memórias ancestrais dos seus pais e avós no campo, trazendo, no presente, troca de mais conhecimentos técnicos que elevam a qualidade e resiliência dos plantios.
"O que estamos testemunhando agora é o aumento da qualidade da lavoura e do solo, com uso de bioinsumos e integração de espécies, gerando alimentos saudáveis e com mais sabor, além de aumentar a vontade nossa e de nossos filhos e filhas de permanecer na lavoura", declarou.
Para Rikke Olivera, especialista chefe global do FIDA e líder do projeto, as atividades do Raízes Agroecológicas são extremamente importantes no sentido de buscar retirar famílias agricultoras latino-americanas da pobreza.
"Temos de focar e perseguir sempre o caminho da construção de autonomia das famílias no campo, empoderando-as para elevar a renda e enfrentar as mudanças climáticas. Sabemos que são passos difíceis, mas com fortalecimento de parcerias, combinando inovação, cooperação, assistência técnica e intercâmbio de conhecimentos, temos certeza de que dá para produzir melhor, com mais qualidade e produtividade e enfrentar as dificuldades", afirmou.
A chefa-geral da Embrapa Tabuleiros Costeiros Tereza Cristina de Oliveira destacou que a agroecologia tem papel fundamental, enquanto sistema de organização de conhecimentos e fundamento científico e para a organização social, no aumento da autonomia e resiliência dos sistemas de produção de alimentos pelas famílias agricultoras.
"Vemos a materialização desse projeto como um grande marco no caminho para fortalecer não apenas as famílias agricultoras, mas trazer ganhos, também, para as equipes técnicas das organizações parcerias, tornando essas experiências locais um exemplo para o mundo inteiro", acredita.